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Diga-me como teu povo vive e eu te direi como ele envelhecerá - Revolução da longevidade (5)

O idoso é reflexo de um projeto do futuro de todo ser humano, mas que a maior parte se recusa a enxergá-lo. Negar a existência de uma possível velhice torna as pessoas despreparadas para os desafios vindouros em termos individuais e coletivos.


Elaborar o envelhecimento quando ainda se é jovem, traz a responsabilidade de se contribuir com ações que promovam qualidade de vida na velhice não só para si, mas para todos/as. Isso também colabora para a compreensão de que velhice não é patologia, mas uma fase de curso de vida. Os atributos negativos da velhice são frutos de uma construção social, assim sendo, podem e devem ser mudados.


Aprendemos com exemplos. À medida que o/a idoso/a é desprezado/a e calado/a, ensina-se que assim é que todas as pessoas devem ser tratadas, inclusive eu e você quando chegarmos lá.


Nunca vivemos por tanto tempo

Quando se fala em revolução da longevidade, é necessário pensar sobre curso de vida, que é a trajetória de vida do indivíduo em diferentes contextos históricos e sociais.


No século XIX, por exemplo, mesmo nos países desenvolvidos, a pessoa aprendia tudo que lhe era necessário até os quatorze anos. O trabalho era predominantemente braçal e começava cedo. As condições de saúde e higiene deixavam muito a desejar se comparadas aos dias atuais. Consequentemente, as pessoas não viviam muito.


Abaixo, o gráfico mostra a média mundial de expectativa de vida no séc. XVIII, que era de 31 anos e já em 2017, de 72 anos.

Factfulness: Média de vida global entre 1800 e 2017

Segundo o Censo Demográfico do Brasil de 1900, a expectativa de vida do/a brasileiro/a era de 33,4 anos. Muita coisa mudou desde então. Se antes a preocupação era com o curto período de vida do ser humano, agora o olhar se volta para esse novo mundo onde a população viverá mais. Muito mais.


Envelhecer é um processo que requer atenção desde sempre

Quando se comprende que envelhecimento é processo, entende-se que as peças que compõem esse processo têm impacto umas nas outras.


A saúde, por exemplo, deve ser um objetivo, um alvo desde sempre. E a saúde não é criada no hospital, no médico. A saúde é criada no dia-a-dia onde as pessoas moram, trabalham, circulam, divertem-se, comem, descansam e se amam, parafraseando o gerentologista Alexandre Kalache.


Como já salientou o pesquisador George Vaillant, para mais qualidade de vida na velhice,

“é necessário adicionar mais vida aos anos e não apenas mais anos à vida”.

Para isso, é importante entender que o corpo foi feito para se movimentar, portanto necessita de atividade física.


A flora intestinal aprecia comida de verdade, porque é dela que o corpo extrai os nutrientes que permitem o bom funcionamento humano.


A mente precisa de atividade para manter-se saudável. Mas não de super estímulos como a internet o tempo inteiro. Estímulos que aumentem o poder de foco, de concentração, como a leitura de um livro, por exemplo.


Já que a vida tende a ser mais longa, é importante que se busque renovar os conhecimentos, que se aprenda constantemente, pois as pessoas trabalharão por mais tempo e haverá mais interações nessa fase da vida de agora em diante.


Ter uma rede social, isto é, ter amigos, pessoas com quem se possa contar, compartilhar momentos alegres e tristes faz bem à alma, trazendo vitalidade, além de previnir o declínio mental.


A proximidade com a natureza e o respeito a ela não trazem tão-somente benefícios individuais, mas também beneficios para o planeta como um todo.


A maior parte disso deve ser encarada não como modismo, mas do mesmo jeito que se tem de se higienizar após a ida ao banheiro, ou seja, como uma rotina diária. Melhor ainda: como um estilo de vida.


Um estilo de vida assim ajuda a prevenir a deteriorização do funcionamento cognitivo, pode diminuir o risco de problemas de perda de neurônios, memória e, consequentemente, evitar a demencia, por exemplo.


Entretanto, se observarmos bem, ações aparentemente tão simples não estão garantidas a todos/as brasileiros/as. Como fazer uma caminhada tranquila, por exemplo, se não há uma calçada de pedestre, se não há iluminação pública, se há risco de assalto ou estupro? Como comer bem se as opções mais saudáveis não são as mais acessíveis, mas fáceis e mais baratas? Como não se deixar levar pelo álcool, o fumo ou outra droga quando a pessoa se sente excluída, massacrada e até invisível e não lhe foi ensinado como lidar com emoções desagradáveis? Como continuar com uma mente ativa quando esse direito foi negado à pessoa desde sempre? Como ter propósito de vida quando a desesperança se instala? Como ter uma sociedade igualitária quando os investimentos em ações sociais estão congelados por vinte anos?


Envelhecer com qualidade de vida não será acessível para a maior parte da população brasileira, pois o envelhecimento é processual. E nesse processo, o acesso à saúde, ao direito a aprender, a trabalhar, a ser protegido e a participar tem sido negado.




REFERÊNCIAS

Livros

Boniwell, I. & Tunaril A. Positive Psychology - Theory, research and applicartions. Second Edition. NY: Open International Publishing, 2019.



Rosling H., Rosling O. & Rosling A. Factfulness: Ten reasons we're wrong about the world - and why things are better than we think. NY: Flatiron Books, 2018.


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